Lembretes desta semana:
- N/A
Reportagem por Pedro Santos
Papa Trilhos By Night 2022
Uma história verdadeira, contada com factos inventados
Qualquer semelhança entre os nomes das personagens e o de pessoas da vida real terá sido apenas uma incrível coincidência!
Capítulo I
Um vulto passa por detrás da janela, denunciado pela sombra dos primeiros e ainda fracos raios de um dia ainda a nascer. Apesar da pouca luz, Toni percebeu que não estava sozinho.
Se durante a semana este local tinha bastante movimento, não era comum verem-se pessoas a um sábado. Sentia-se um frio no ar, mesmo numa das noites mais quentes do ano.
Um brilho de uma lâmina, na contraluz da iluminação da rua que ainda estava acesa, denunciou definitivamente as intensões de quem, entretanto, tinha já posto as chaves na porta e deixou fugir um ruido de fechadura que, mesmo com todo o cuidado a manter silêncio, foi suficiente para se ouvir por todo o edifício.
Vinha vestido com uma sweatshirt cinzenta escura, de capuz sobre a cabeça, escondendo os já poucos cabelos. Por baixo, podia ver-se uma camisola branca por fora das calças de ganga, bem mais comprida. De cabeça baixa, apenas se conseguia notar a ponta do nariz, deslocando-se num andar lento e pesado.
A porta a bater eliminava qualquer dúvida: Tinha entrado!
Um arrepio gelado percorre o corpo de Toni!
Capítulo II
Era sexta-feira! O dia tinha chegado ao fim, mas mais que isso, uma semana cansativa estava também ela no fim. O trabalho estava encerrado, mas ainda havia responsabilidades, porque no dia seguinte tínhamos trilhos por preparar. Havia que reunir as tesouras de poda, acondicionar para transportar em segurança, encher pneus e ver se estava tudo preparado para o dia seguinte!
Pior! Tínhamos de avisar lá em case que nesse fim-de-semana não era só no Domingo! No Sábado também tínhamos de “ir andar”! E essa parte não foi nada fácil de explicar! Anunciar que era o ByNight já não tinha a eficácia de outros tempos! A longa paragem devido aos tempos de Covid descredibilizava agora as entusiasmadas justificações.
Capítulo III
O vulto detetado por Toni, estava já dentro do edifício! Um fio de suor escorreu-lhe pela face, consequência do seu desconforto com a situação.
A pessoa que havia entrado no edifício, Silas, segurava na mão o que parecia ser uma espada, ou uma faca bem grande. Apresentava um gume bastante desgastado por muitos anos de uso. Décadas, mesmo!
Desloca-se em direção à sala “especial”. Enquanto caminha no seu passo lento e pesado, deslumbra de esguelha numa sala lateral, Toni, que estava sentado, olhando fixamente para um monitor de um computador desligado, como que numa teimosa esperança de ver surgir uma imagem do nada. Teria que ser obra de um fantasma, caso isso acontecesse!
Silas seguiu, no máximo silêncio, totalmente concentrado no que tinha destinado a fazer. Ele vinha com um objetivo bem determinado!
Mesmo que ainda viesse com o humor de quem acabara de se levantar, Silas era uma pessoa poupada nas palavras. Raramente iniciava diálogos e mesmo perante perguntas, muitas vezes respondia apenas com gestos subtis ou meros ruídos. “Hum-Hum” quando concordava, “Han-Han” quando discordava.
Entrou para a sala e trancou a porta por dentro. Era um hábito que havia mantido já de seu pai.
Olhou cerradamente para o seu alvo, que encontrou já amarrado.
Capítulo IV
O sol radiava premeditando mais um dia bem quente de verão! Estava já calor e ainda nem eram oito da manhã. Havia mais um procedimento antes de sair de casa: Colocar algum protetor solar.
Tudo em ordem, tesoura no bolso, bidons cheios de água, umas barritas, está na hora. Tudo direito ao ponto de encontro.
Tínhamos tido um pouco de complacência e, por isso, hoje era para estar no ponto de encontro só às 9:00. Sempre deu para dormir mais uma hora.
Lá estávamos todos! Ou quase todos, porque ainda foi necessário esperar a meia hora de tolerância por uns mais dorminhocos, e ainda por uns desaparecidos que nem chegaram a vir. Além de um casal que se reuniu a nós já depois de termos iniciado o trajeto.
Capítulo V
Silas olhou de frente, olhos nos olhos!
Com uma mão ergueu a espada no ar, enquanto se benzia com a outra mão.
Mais um ritual que havia trazido do seu pai, que havia partido recentemente, mas lhe tinha deixado o “negócio”.
Terminado o ritual, segurou a espada com as duas mãos, voltou a olhar para cima e, concentrando-se, mentalizou-se no que tinha de ser feito.
Capítulo VI
Tivemos um primeiro contratempo, onde nos deparamos com uma estrada daquelas que ia para outro sítio, mas em que era a própria estrada que ia mesmo para outro lado! Desapareceu! Por consequência de umas obras na zona, tinham cortado e eliminado essa estrada. Tivemos que arranjar um circuito alternativo, com esperança que também não o levassem embora durante a semana que faltava.
Seguimos então até que encontrámos a primeira zona de silvas onde era preciso cortar bastantes ramos que estavam no meio do caminho.
Muita coisa para fazer! O pessoal das tesouras começou o trabalho.
Entretanto, o Pena explicava ao João:
– Tem de cortar imediatamente antes de um espinho, porque assim a silva cresce mais devagar.
João responde:
– Ok!
– Assim, mesmo que alguém passe, a ponta acaba por proteger!
– Ok. – responde novamente João.
– Além disso, se cortares antes de um espinho, torna até mais fácil depois pegar no ramo com a tesoura e atirar. Ficas com um apoio, tás a ver? – continuava a explicação de Pena.
– Ok!
Enquanto os que tinham tesouras cortavam as silvas que estavam no meio do caminho, estranhamente, Quim cortava apenas as que estavam na berma, fora da zona de passagem. No início ninguém disse nada, mas a intriga ficou em todos os restantes.
Entretanto, havia quem se deslumbrasse com as amoras. Já as havia, e muitas já estavam doces. Sim, algumas sim, outras não. Algumas, mesmo com a cor preta carregada, não estavam ainda em condições de serem comidas, o que se descobria já tarde demais.
Vitor, além de cortar ramos, ainda apanhava umas amoras para Isabel que, feliz, agradecia:
– Obrigada, meu rico amor
– Corta-me bem esses ramos
– Que na barriga, não haja dor
– Com as amoras que vislumbramos
Nisto, António diz:
– Quero lá saber das amoras, eu comia era uma sandes de courato!
Uns trabalhavam energeticamente sobre as silvas, outros comiam, e havia o Quim. Até que alguém pergunta:
– Oh Quim, estás a cortar silvas da berma porquê?
Naturalmente, até com ar surpreendido pela falta de evidência, responde:
– Então, porque se alguém cair, assim não se pica nestas silvas.
– Mas ó Quim, isto é uma reta!
– Sabes lá tu se para a semana não nasce aqui uma curva! Não viste a estrada lá atrás? – Putos, pensou Quim para ele próprio, enquanto continuava a cortar as silvas da berma.
E num instante, aquele pedaço de estrada que antes estava quase intransitável, estava agora preparado para que ninguém se magoasse.
Capítulo VII
Toni sentiu a presença de Silas e decidiu ir à “sala” ver o que se passava.
Tentou abrir a porta, mas estava trancada.
Ainda tentou forçar a maçaneta, para ver se era um problema de força, mas não, a porta estava mesmo trancada. Sabia que não valia a pena tentar. Percebeu imediatamente o que se tratava.
Ele já conhecia aquele procedimento! Foram muitos anos a trabalhar com o pai e agora os rituais mantinham-se intactos. Era esperar ou voltar mais tarde.
Sentou-se numa cadeira sinistra que estava ao lado da porta, aguardando.
Capítulo VIII
Outra semana chegara ao fim, só que desta vez, nem dava para descansar! Era sair do trabalho e ir a correr para o passeio de reconhecimento, que tem de ser feito de véspera.
Esta volta tem como objetivo verificar que está tudo perfeito para a volta. Se houver algum obstáculo, ou alguma silva que tenha voltado a crescer, tem de ser removido. Tudo tem de estar perfeito para amanhã!
Mas nesta volta, alguém mexeu no chouriço do Saiote. Ao princípio, ainda houve a suspeita de que teria sido o João, mas a dúvida permaneceu, uma vez que toda a volta tivemos de questionar tudo e todos sobre o chouriço!
– Quem mexeu no meu chouriço? – perguntava Saiote a João!
– Achas que alguém quer o teu chouriço para alguma coisa? Se calhar tens para aí, só que é tão pequeno, que nem o encontras – contra-ataca João!
Havia ainda que “chipar” pessoal, para poder verificar a plataforma de controlo. Colocando os telemóveis de pessoas chave a emitir a posição GPS, permitiria seguir o movimento do grupo, podendo uma grande precisão na hora de coordenar as passagens de estrada, onde contaríamos com o apoio das forças policiais.
Entretanto, Pena explicava a Pedro:
– Com esta aplicação do Glympse podes partilhar com outras pessoas onde andas. Se tiveres que combinar alguma coisa com alguém para te apanharem, é muito mais fácil combinarem o ponto e hora de recolha, sem teres de estares à espera.
– Ok – responde Pedro
– As outras pessoas podem ainda saber a tua velocidade! Se estás muito tempo parado, é porque pode ter acontecido alguma coisa! Assim pedem logo ajuda, se não conseguires responder ao telemóvel, por exemplo – continua Pena, entusiasmado!
– Ok
– E ainda tem a vantagem de se poder fazer em grupo, podendo ver cada um como um ponto no ecrã, tás a ver?
– Ok – responde Pedro
Capítulo IX
Ouve-se um firme e intenso grunhido, seguido de silêncio!
Toni sabia perfeitamente o que tinha acabado de acontecer.
Também ele, olhou para cima, enquanto executa um ritual de bênção. Uma sequência de gestos, como que a pedir a misericórdia a uma entidade divina.
Capítulo X
A volta de limpeza dos trilhos segue o seu rumo. Aqui e ali, havia umas silvas que se tinha de cortar, mas coisa que se fazia rápido. Acabou por ser uma volta domingueira, só que ao sábado.
Algumas paragens para coordenação das ações, onde se definia quem fazia o quê.
Haviam os guias que tinham por missão limitar a volta na frente, mas tinha de ser assistidos pelos seus apoios, sempre que havia cruzamento de estradas.
Alguns pontos mais perigosos tinham também se ser sinalizados.
Isabel estava feliz:
– Que belo vai ser este passeio
– Vamos todos dar o litro
– Para ser um dia em cheio
– Tudo programado ao milímetro
Capítulo XI
O sol já raiava. Era agora hora de informar o “cliente”.
Toni observa a maçaneta a rodar. A porta abre-se, com Silas a ficar frente a frente consigo.
Silas segurava uma faca na mão direita, enquanto encara diretamente os olhos de Toni. Vestia agora apenas uma camisa branca, comprida, que ia até aos joelhos, com bastantes marcas de vermelho. Era impossível não identificar imediatamente de que marcas se tratavam. Diferentes tonalidades de vermelho, umas mais vivas, outras mais para ao grená, denunciavam que este não era o primeiro “serviço” que fazia. Muitas marcas, várias tonalidades, metiam respeito!
Uma gota escorre pela espada e cai no chão. Num raro momento de diálogo, Silas diz:
– Preciso lavar, mas a água está cortada lá fora. Podes ir abrir, por favor?
– Com certeza, chefe! – responde Toni, combinada com a grande vontade se sair dali. Seguiu de imediato para a torneira Mestre, que estava do lado de fora do edifício. Abriu-a!
Com a brisa já quente pelo sol de verão, sentiu-se momentaneamente aliviado. Por uns instantes, hesitou a voltar lá dentro. Deveria informar que já estava aberta? Ou ficavam mesmo ali, na segurança do espaço exterior à espera?
Ganhou coragem e voltou para dentro:
– Já está, chefe!
– hum-hum – responde Silas, enquanto volta para dentro da sala.
Capítulo XII
Já começava a ser noite e Saiote ainda não sabia do Chouriço.
Continuava a perguntar ao João, enquanto Quim, na sua já longa experiência de vida, pergunta matreiramente:
– Tens certeza que não o cortaste às rodelas, ó Saiote?
Mas Saiote estava inspirado! E responde logo quase de imediato:
– Claro que não! Achas que o João é algum mealheiro?
Uma gargalhada saiu espontaneamente. Até João se riu, mesmo sabendo que tinha ainda obrigação de dizer qualquer coisa.
– Mas ó Saiote, se cortasses o teu chouriço às rodelas, isso também só dava para uma rodelinha era quase a mesma coisa – Diz João, num sorriso sarcástico.
Desta vez, Saiote sentiu que João era um bom adversário! Dava luta! Seria o seu “adversário de desgarrada” para todo o passeio!
Nisto, António diz:
– Quero lá saber do chouriço, eu quero é uma sandes de courato!
Capítulo XIII
O telefone de Ni toca. Não seria normal, num sábado ter o telefone a tocar logo às 8:00, mas como não encontrou de imediato os óculos que lhe permitiriam ver quem estava a ligar, decide, mesmo assim, atender o telefonema.
– Aníbal?
– Sim!
– É para dizer que o serviço está feito!
– Boa! Está a correr como combinámos?
– Sim! Tudo exatamente como combinado!
– Ok, obrigado!
– De nada. – Silas desliga.
Ni, ficou a pensar, enquanto Isa, sua esposa, pergunta ensonada, depois de ouvir o curto diálogo:
– Ele sempre conseguiu?
– Parece que sim! – responde Ni.
E Isa vira-se e continua a dormir, onde se percebia que o que tinha acabado de suceder se tratara de um procedimento já habitual.
Ni ainda enviou uma mensagem a Alex:
“O serviço está tratado. Estamos safos!”
Quase de imediato, inesperadamente pela hora do dia que acabara de começar, recebe a resposta de Alex:
“Boa! Ainda receei que ele não conseguisse!”
Ni volta a escrever: “Quer dizer que logo à noite vai ser até rebentar!”
Recebe de resposta: “Mesmo assim, não podemos relaxar, que o trabalhinho não acaba aí. Voltamos a telefonar-lhe a seguir ao almoço, para confirmar que está a fazer tudo”
“Ok”, envia Ni.
Ni já não conseguiu voltar a adormecer. Era o dia do Bynight, muita coisa havia ainda a tratar. E ele sabia, pela velocidade de reposta das mensagens, que Alex também já estava de pé há muito.
Capítulo XIV
Alex estava muito stressado com toda a preparação do evento. Houve muito trabalho, desde a preparação do circuito, as aprovações para podermos usar os trilhos definidos, a pressão de podermos ter um estado de emergência devido aos incêndios que impedisse o acesso à serra, as T-shirts, os cartões de identificação, as ajudas da Junta, quem pede o quê.
Para garantir a cooperação com a polícia, decidiu participar nas voltas de preparação. Por isso esteve, quer na volta de limpeza de sábado, quer na confirmação de véspera. O cansaço de praticamente não ter dormido nos dias anteriores ao passeio eram agora compensados pela adrenalina do dia do evento! Era hoje que tudo iria acontecer.
Ainda por cima, Pedro, aquele companheiro que anda sempre distraído, tinha trazido mais uns amigos à última da hora, que obrigou a estender a preparação para além das horas previstas. Pedro tem esse problema, anda sempre a leste, e nem tinha reparado que existia um prazo! Só deu por essa limitação, quando de véspera, depois de ter inscrito 5 pessoas e ainda ter mais um a pedir para entrar, Alex diz com cara de poucos amigos:
– Sabes que as inscrições já fecharam há três dias, não sabes?
Pedro, de repente pensou: – Oh Fod…. o limite. Havia um limite!
Ainda Pedro tentava descobrir qual seria esse limite, Alex antecipa-se:
– As inscrições fecharam na quarta-feira.
– Sendo assim, se não der, olha, paciência, na boa! – diz Pedro, sabendo que tinha feito “cocó”.
Mas Alex é demasiado comprometido com a perfeição e não podia deixar uma pessoa interessada de fora. Já depois da volta de véspera fechada, lá mandou um SMS: “Diz ao teu amigo que tem 10 segundos para se inscrever!”
E aconteceu! O amigo de Pedro inscreveu-se!
Capítulo XV
Silas volta a vestir a sweatshirt por cima da camisa, arregaça as mangas e diz:
– Toni, já está pendurado e lavado. Tratas do resto? Levas para lá?
– Sim chefe, eu trato! Pode ir! – responde Toni, enquanto tira a camisa e coloca também uma bata branca, idêntica à de Silas, mas de um branco bastante mais vivo, sem marcas vermelhas. Por cima coloca ainda uma bata bastante escura, num preparativo que evidenciava um previsível contacto físico com algo que o deixaria bastante sujo.
Enquanto Toni entra para a “sala especial”, Silas arruma a faca dentro da bainha de cabedal e sai.
– Até logo Toni. Vou lá ter, depois do almoço.
– Ok Chefe! Até já!
Ouve-se a porta fechar! Toni espera uns segundos, só para garantir que não há ninguém dentro do edifício. Desta vez, deixa a porta da “sala especial” aberta. Este é um sítio onde ele não gosta de se sentir “encurralado” por isso, ao contrário de Silas, deixa sempre a porta bem aberta. Aberta, e com um calço para garantir que não se fecharia por acidente. Já tinha visto muitos filmes, com portas metálicas semelhantes àquela, onde nunca acabava bem para quem lá ficava preso dentro.
Capítulo XVI
A volta de reconhecimento terminaria no recinto de festas, já pela noite, onde se sabia que estaria o Quim Barreiros a atuar. Com tanta conversa sobre quem mexeu no chouriço do Saiote, o pessoal acabou por ficar com vontade de comer um pão com chouriço e acompanhar com uma cervejinha.
Exceto António, que queria ir lá, mas para uma sandes de courato!
Até chegámos a ter essa ideia de um petisco, mas depressa tivemos de abortar o plano! O recinto de festas estava tão cheio, que era impossível entrar para o pão com chouriço, mesmo sabendo que era imediatamente a seguir ao portão de entrada. Não dava nem para entrar a pé, quando mais com uma bicicleta.
Decidimos então, ouvir um pouco do “Meter o carro na garagem da vizinha”, enquanto ganhámos balaço direitos a casa.
Já em casa, ainda a ouvir “Quero cheirar o teu Bacalhau” podíamos ainda sentir no pensamento o “Chupa a Teresa”.
Capítulo XVII
Já estava o Staff todo organizado, quando começaram a chegar os primeiros pedaleiros.
Tudo orquestrado, para que não falhasse nada! Um saco com todo o material era entregue a cada pessoa inscrita. Fitas de pulso para acesso ao “comes e bebes”, t-shirts de staff, t-shirts de participantes, e ainda mais t-shirts onde, no meio de mais umas prendinhas, lá estava o que era realmente indispensável: A placa para colocar na bicicleta!
À medida que o pessoal ia chegando, eram inevitáveis as conversas típicas: “carretos” daqui, “vinte e nove” dali, “Shimano” em stereo, numa surdina típica dos ajuntamentos de bicicletas.
Entretanto o Pena explicava a um amigo:
– Quando o cranque tem 172 cm, deve usar-se uma pedaleira de 39 dentes.
– Ok – responde o amigo desconhecido.
– Senão, quando tentas fazer mais força na pedalada, o joelho fica desalinhado com o eixo da pedaleira e não vais conseguir tirar toda a potência muscular, tás a ver?
– Ok
As pessoas são cada vez mais, as bicicletas começam a amontoar-se.
Surge Alex no palco, de microfone na mão, onde no meio de muitas explicações, vem o inevitável “– Vamos a isso, malta!”.
O passeio começara. Os apoios policiais, com a colaboração da excelente claque do staff, tornavam a coisa com um aspeto bastante profissional! Os guias começavam a fazer o seu trabalho, no fecho de cruzamentos que podiam confundir alguém mais distraído. Só quando os guias do “fecho” chegavam, é que todo o aparelho se movia para o ponto seguinte.
Tudo corria dentro do previsto, até que chegaram os furos e avarias! Tivemos muitos furos! E avarias, tínhamos algumas em que o nosso mecânico de serviço, Borda D’agua, lá ia resolvendo. Tivemos uma estreia em avarias irreparáveis, onde teve de, pela primeira vez, haver reboque no “carro vassoura”.
Um pouco aos solavancos, lá fomos em direção ao ponto de encontro, quando numa das paragens para furos, se dá uma concentração de Lefty’s, mesmo ao lado de Pena.
Pena olha e diz: – Olha tantas! Assim, juntamos as Lefty’s todas e, duas a duas, conseguimos fazer uma bicicleta completa!
Mas, de repente, Pena repara que as suspensões incompletas são todas do mesmo lado, não daria para aplicar a sua teoria. Ficou intrigado com o facto que ter pensado algo que havia falhado! Pensava para ele próprio: – Ora bolas, será que consigo virar o amortecedor ao contrário? Será que o eixo dá para colocar pelo outro lado? E depois, fica com a resistência que é necessária?
A concentração neste pensamento era tanta que não disse mais nada durante meia hora, quando finalmente chegámos ao ponto de reabastecimento!
A organização tinha preparado uns sacos individuais, com um lanchinho! Um pão com chouriço era a estrela.
Lá atrás, Ni reclama: – Ó saiote, acho que ontem andaste a roubar o chouriço dos pães! O meu não tem quase nada!
Resultado dos demasiados imprevistos, havia que recuperar do atraso, por isso o abastecimento foi encurtado. Rapidamente, foi montar as bicicletas e voltar a pedalar. Agora já era mais fácil, era mais curto e era sempre a descer. Pelo menos, era o que alguns iam dizendo como que para motivação.
Quando demos por ela, estávamos prontos para entrar no recinto de festas. Havia um código secreto: Ouviríamos o Apita o Comboio e então é que entravamos. Só que o senhor maquinista esqueceu-se e acabou por não parar o comboio na estação certa. O pessoal acabou por entrar no recinto, até o que o senhor da música, já connosco todos sentados, é que finalmente anunciou a nossa chegada. Valeu de pouco porque as pessoas ouviam, mas já não nos viam. Isto é o que dá andar com o “Comboio a apitar” sem respeitar as regras!
Era agora a hora de enfardar!
Lá estava o Silas, que nos veio anunciar o porco no espeto que havia preparado para nós. Indicou que estava do outro lado, caso não nos apercebêssemos. Com poucas palavras, como é seu habitual, apenas disse:
– Sirvam-se à vontade e bom apetite!
Isabel desloca-se à roulotte dos pães com chouriço e faz o seu pedido:
– São dois sem chouriço, por favor
– Que eu não como nada de animal
– Tenho do chouriço algum pavor,
– Mas a vontade é abismal!
António, desesperado, pergunta:
– Onde é que posso ir buscar uma sandes de courato!
– Ali à frente, há. – responde Mário.
António sai disparado enquanto solta um “– Obrigado!”.
Entretanto, Pena vai conversando com Sá:
– Deves sempre optar por uma coroa única à frente de 34 dentes, caso tenhas 10 dentes na pequena. Mas não esqueças que na grande tens de ter 42 dentes. Até podes ir aos 44, se quiseres fazer muitas subidas.
Sá responde:
– Ok!
– Mas podes pensar nos 36 na pedaleira, caso queiras ir para a estrada. Isto para a 29! Para a 27,5 ou 26 já não bate certo, tás a ver?
– Ok.
Entretanto, enquanto Pena se prepara para indicar a combinação de dentes para 27,5, aparece o Manel, entusiasmado:
– Men, está a dar uma do DJ White! Vamos dançar!
– Bora lá, responde o Saiote!
Já um bocado chateado, vem o António:
– Bolas, não consigo encontrar sandes de courato em lado nenhum! Pessoal, ajudem-me!
Só se houve novamente a voz de Mário:
– Há três anos era lá onde te mandei. Se não há lá, então não sei.
Meia hora havia passado, Pena, continua na explicação:
– O Óleo deve ser metido, elo a elo, sempre de cima para baixo. É para quando escorrer, ir oleando por dentro, tás a ver?
– Ok
Entretanto, aparece novamente o Manel, eufórico:
– Está a dar a “Wake Me Up”, bora lá dançar! O Saiote larga de imediato a cerveja que tinha na mão e salta para o palco a dançar como se não houvesse amanhã!
E o grande dia chega assim ao fim!
Um grande agradecimento a todos os membros do Staff que ajudaram e colaboraram na organização deste ByNight. Estiveram espetaculares!
E como é lógico, além que agradecer em nome do grupo a todos os que se juntaram para pedalar connosco, contamos convosco para o ano que vem!