Reportagem por Jorge Gois
Atraído pelo desafio, propus-me fazer um Tróia-Sagres prova épica com distância respeitosas capazes de arrebentar com o cabedal a qq um. Eu escrevi qq um , não os Papa Trilhos!
Então foi assim…
5:10 h, o Lapa recolhe-me em casa para aquele que seria um dia para recordar. Cerca das 5:30h, já estavam à nossa espera em sua casa o Mimosa, a Gina e o Ivo para começar a arranjar as bikes e o restante material. Trouxa na carrinha e ala em direcção a Setúbal. A festa começou logo na viagem com muitas viaturas de bike no tejadilho e sorrisos de orelha a orelha. Longa fila nos ferries e lá embarcamos. Começamos a sentir o vento forte e gélido que nos acompanharia toda a viagem. Depois do café tomado, começamos a preparar as bikes. Dores de barriga de última hora anteviam o empeno garantido. 7:33h arrancámos os 3 em direcção a Sagres. Começamos a rolar devagar como que a dizer ás pernas “ vão-se habituando que isto vai durar..” Por nós passavam amigos de todas as cores sendo na maioria estradistas.
Kms a passar, aqui e além fotógrafos escondidos, procuravam os melhores ângulos para as fotos.. sim... afinal são os Papa Trilhos que ali iam!! Comporta, Torre- Carvalhal e Pinheiro da Cruz... caminhos que percorri há anos atrás, quando ainda estava no Corpo de Fuzileiros. Agora de bike revivi cada momento, cada sensação. Ao mesmo tempo íamos aproximando e passando grupos mais vagarosos do que nós... e sendo por outros mais apressados.
Fomos largos kms com um grupo que não me recordo de onde eram, mas bom jeito nos deram, pois era malta larga de costados e dava jeito pró vento... mas como se arrastavam deixamo-los pois claro!! Entrados na EN261 em direcção a Melides o ritmo era bastante bom, pois facilmente andávamos acima dos 30kms/h - parecia a festa da “ volta” - ciclistas animados, carros de apoio, claques, cartazes de incentivo aos conhecidos. Um pouco de tudo, não indiferentes, nós continuávamos em frente encabeçados nesta fase pelo Lapa que assumiu as despesas da casa.
O primeiro abastecimento aconteceu nesta fase aos 39km e que bem que soube. Parabéns Gina e Ivo - foram incansáveis. Retomada a marcha, acelerador a fundo que vinha aí uma enchente de malta que metia respeito. Alguns kms percorridos virámos à direita para S. André/Sines, passámos a Aldeia de Brescos e virámos novamente à esquerda para Sines. Ladeámos a cidade nova de S. André e entrámos na via rápida para Sines.
Nesta fase o Mimosa confessou-me que era onde se ia mais abaixo. E era verdade. Foi mantendo o seu ritmo e não conseguiu andar ao mesmo ritmo que levávamos. Sem pressão, foi ficando no seu registo, pois sabe gerir os seus recursos e sabia que era importante não cometer excessos. Entretanto decidi apanhar um grupo de penduras que rebocados por uma carrinha se deslocavam sem vento. Foi assim até à rotunda que aponta para o Algarve. Mais fotos, mais acenos de mão e lá vai ele. Mais à frente o nosso 3º abastecimento (2º a andar), creio que em frente à central de Sines (S.Torpes). Aqui vemos o Jorge Nunes e foi uma festa dentro da festa. Lá seguiam os Focas em ritmo porreiro pá!
Foi um dos abastecimentos mais demorados, pois o Mimosa estava sem combustível e vinha a passar mal. Comer, hidratar, comer, hidratar…Por fim lá seguimos também, ritmo bastante bom. Ainda parámos para dar dois dedos a uma amigo do Mimosa numa auto caravana. O Lapa seguiu e fez muito bem. FURO!!! Após 15" (belos mecânicos sim senhor) mas a CA ficou mal metida e então lá fui aos solavancos desde o monte da Amoreira, Salgadinho, Fonte de Mouro, Ribeira da azenha, Malhoinhas e foi esse penadouro até brunheiras.
Aqui comemos, graças á Gina e ao Ivo, o melhor frango assado da minha vida (e olhem que já comi...). Troca de câmara de ar outra vez e afinação de roda pois vinha a travar desde á muitos kms. (Aqui ficou nova agora sim!). Paragem para apreciar a malta que andava a competir e a convidar "pró" lanche quem precisasse...
-“ Olha os Papa Trilhos" - ouvia-se de vez em quando, “está tudo bem com vocês?” - gostámos de ver o respeito e amizade que têm pelo nosso grupo!!!
Saída para o resto da viagem km 98 e ainda muitos pela frente... Alagoachos, a ponte de V. N. Mil Fontes até á saída da EN393 em direcção à Fataca, foi a um ritmo alucinante. Nem todos os estradistas nos passavam. Podem crer - várias vezes acima dos 40km mas assim tiradas de muitos kms. Fataca !! Monte do Moinho e mais á frente o Mimosa diz-me:
- “ Olha lá! É aqui que fazem os festivais..!”
É, faziam mesmo, um atleta assentou arraial à porta do evento, bike no chão, capacete para um lado, sapatos para outro, e a julgar pela pressa, está aguardar lugar para a bilheteira.
Encalhe - EN120 S.Teotónio, entre S.Teotónio e Aldeia Nova das Pecinhas, dizia-nos o Mimosa ao olhar para uma manada de vacas:
- “Olhem lá para onde eu tenho o meu dinheiro empatado?” - foto da praxe pelo fotografo de serviço Lapa!
Vale Juncalinho, Cerro atravessado e mais à frente Baiona. Estes últimos kms foram alucinantes com descidas espectaculares e longas …bem longas - 5*. Em Baiona já cheirava a açorda. Rodámos à esquerda na ponte e aí está o primeiro empeno - a famosa subida de Odeceixe. Curta, mas empinada, segue, está feita!! Com Maria Vinagre à vista, o ritmo que se queria alto, prometia. E eu estava a sentir-me bem para rolar a alta velocidade. Rogil ficou para trás e só pararíamos em Aljezur!!
Abastecidos, voltei a afinar a roda traseira e estava preparado para a estocada final. Arrancamos cheios de vontade, com um ritmo entre 27-30km, mas alguns kms depois parámos a fundo, em Barranco da Vaca, perto de um restaurante de estrada. O Mimosa não aparecia, motivo - quebra de açúcar. Voltámos atrás e mais uma vez comemos e bebemos (a falta que ía fazer..)
Seguimos, saímos da EN120 e virámos no cruzamento para V.Bispo – Sagres, não sem antes tirar a foto da placa. Aqueles 20 e tal km até á povoação de Carrapateira, mais uma vez, foram feitos mesmo em subida acima dos 30 kms.
Carrapateira. Parámos sem abastecer, mas apenas para delinear ataque à subida com o mesmo nome. Surpresa das surpresas, o nosso Líder queria desistir !!! Nunca, nem penses, agora? A 30Km da chegada? Foi por pouco! Ainda bem que seguimos os 3. Nestas alturas, a coesão do grupo é de primordial importância! Começamos a subir e aqui havia naturalmente diferentes andamentos apesar de não haver já muita luz natural. Comecei a puxar, estava desejando de chegar a Sagres, eles vinham logo atrás, mas foram ficando e eu fiz a serra sem qualquer luz à frente. Mas sentia-me bem e puxava cada vez mais, mesmo sem ver nada. Já na parte superior, perto das eólicas, vejo luzes a piscar e luzes no chão. Ok, têm luzes vou agarra-los, mas ao chegar vejo que é um casal e a moça senta-se no chão..Bolas!! Vai desistir!!
-“ Amigos, precisam de alguma coisa? Temos um carro aí atrás se precisarem.” - E segui! As luzes do carros em sentido contrário no máximo feriam-me os olhos, mas não a determinação, e como tinha decidido entrar com eles em Sagres esperei no único poste de iluminação que vi em toda a subida. Minutos depois, vejo as luzes da carrinha e os meus 2 companheiros de empeno. Seguimos os 3. O casal tinha ficado mais um pouco!
Bem daqui até V. Bispo pela EN268 foi um fininho. O forte vento trazia uma brisa familiar. O Mar !! Rodámos na rotunda à esquerda e entrámos na via rápida para Sagres. O ritmo, esse ia diabólico. Mais á frente, fortemente guardados por jipes e carrinhas Mercedes, seguia um grupo com mais de 20 pessoas de bikes estrada ..Não os apanho? Apanho!
Bofes de fora, quase enrolados na pedaleira, agarramos os ciclistas. Passamos os Volvos e Mercedes, e Sagres como que rendida a nossos pés aplaudia a nossa chegada .
-“Aqui ao pé da placa" - dizia o Nosso Mimosa... E passa o grupo minutos depois -“ é lá ao pé do posto de turismo que acaba..”
-“E se a gente não quiser? A gente acaba onde quiser, ou isto não é Sagres…? “
Ganda Paulo Semião. O Lapa também quer acabar no local de referência e lá seguimos o pouco que faltava até ao posto de turismo. À nossa espera, a Gina e Ivo. A festa estava lançada. Abraços e beijos. Descida das montadas, foto da praxe e toca a guardar as bikes e tomar um café (o primeiro). Risos muitos risos, mas doía-me tudo. Até tive direito a oferta de uma bengala pelo dono do Café. Já vai passar o Natal nas mãos de quem precisa.
De regresso a Baiona para a açorda, passamos ainda por muitos aventureiros mais atrasados. A sorrir e quase em silêncio regressamos pela mesma estrada que tanto prazer nos deu… para a merecida açorda com 20 ovos e para 10 pessoas.
O resto são.. 204,4Km de aventura e amizade, de sofrimento e euforia, de orgulho e raça de pertencer aos Papa Trilhos de Fernão Ferro.
Gina , Ivo, Lapa, Mimosa , Góis.
Gostaria mais uma vez, de agradecer à Gina e ao Ivo, a amizade, a motivação, a ajuda e o empenho nesta viagem. Sem eles tudo teria sido muito, mas muito mais difícil.
E foi assim que aconteceu !! Um dia bem passado.