Reportagem por Paulo Alex San
O Caminho de Santiago iria mais uma vez ser o protagonista de uma aventura Papa Trilhos - a 2ª Peregrinação Papa Trilhos a Santiago de Compostela. Desta vez, o trajecto escolhido, era o caminho interior, Via da Prata. Este caminho, tem inicio em Sevilha e é o mais longo dos vários Caminhos de Santiago. Nós iríamos começar este caminho, em Chaves.
DIA 0 - Viagem Fernão Ferro/Chaves
Antes de pedalar, há que chegar... o transporte escolhido foi o autocarro que nos iria levar desde Fernão Ferro até Chaves. Já com algum atraso, o autocarro chegou ao Parque das Lagoas. Arrumámos rapidamente as bikes no porão, a bagagem e mais alguns acessórios, e despedimo-nos dos nossos familiares e amigos que foram ver a nossa partida.
A viagem foi tranquila, com 2 paragens pelo caminho. Alguns tentaram aproveitar as várias horas de viagem para descansar e até houve quem conseguisse! Pouco antes das 08.00h lá estávamos nós a atravessar as ruas da cidade de Chaves.
DIA 1 - Chaves/Ourense
Depois da chegada a Chaves, há que preparar as bikes para a 1ª etapa da Peregrinação. Algumas afinações de última hora e tudo a postos para esta grande aventura.
Depois de encontrarmos o track do Caminho, circulámos junto ao rio e fomos em direcção a Espanha. Os 1ºs kms foram em alcatrão. Já em Espanha, o 1º percalço do dia foi com a bike da Isabel a dar um valente estouro... foi o pneu que saiu do sitio.
Continuámos caminho sem dificuldades de maior. Isto afinal não estava a ser tão complicado como prevíamos... Parámos em Verin para petiscar alguma coisa e não resistimos às sandes de presunto a 1€. Com a serra à vista, avizinhavam-se algumas subidas. A 1ª ameaça foi numa subida de perder de vista junto a Arcucelos. Mas não passou disso mesmo, pois o track não era por ali e adiámos o prometido acumulado.
Seguimos junto ao rio Tâmega com um percurso essencialmente plano. Mas por pouco tempo... a subida do dia era pela serra para Albergaria. Com um troço em que tivemos de fazer com a bike à mão, subimos até aos 956m de altitude. Era uma subida dura e o pior é que o S. Pedro lá do sitio também não ajudou. Já a mais de meio da subida, começaram alguns chuviscos. Depois uma chuva mais intensa com frio à mistura. Sem local para abrigar, foi molha garantida. Começámos a ter bastante frio e depois da chuva, foi uma avalanche de calhaus de granizo para arrematar. Com um frio extremo, deixámos de sentir as mãos e os pés, que nos obrigou a pedir ajuda junto da aldeia mais próxima. Um casal de velhotes, leia-se Santos, da aldeia de Borrán acolheu-nos. Prontamente, deixou-nos entrar em casa deles para nos aquecermos e disponibilizaram-nos toalhas para nos limparmos. Lá fora continuava a chover e discutimos vários pontos de vista sobre o que fazer. Acabámos por decidir fazer mais uns poucos kms até ao café da estação de Villar del Barrio onde tomámos algumas bebidas quentes (viva ao ColaCao!!!), comemos e descansámos um pouco.
Mais repousados e já sem chuva, decidimos continuar viagem, mas por estrada até Ourense. Disseram-nos que era sempre a descer, mas ainda fizemos umas belas subidas (o que também ajudou a aquecer). O sol ainda apareceu e até deu para secar quase a roupa toda. Este contraste também animou o grupo e pouco depois das 19.00h estávamos a chegar ao hotel junto a Ourense após 10.45h de sairmos de Chaves e 105Km.
Foi uma etapa sofrida, não tanto pela dificuldade do percurso, mas pelas condições atmosféricas extremas. A união do grupo foi determinante para termos ultrapassado estas dificuldades, permitindo chegarmos todos e recordarmos esta etapa para a posteridade. O casal que nos abriu a porta para nos aconchegar foram a figura do dia e é justo prestar aqui a merecida homenagem e agradecimento, pois sem eles, esta etapa poderia ter um rumo bastante diferente.
DIA 2 - Ourense/Silleda
O pequeno almoço estava marcado para as 07.30h e após algumas afinações, começámos a etapa às 08.25h, hora espanhola. Descemos até Ourense e ainda demos umas voltinhas pela cidade. Fomos conhecer a catedral e tirar algumas fotos.
À saída de Ourense, esperava-nos uma subida de "S" maiúsculo. Era a "Costina de Caneno" que nos fez transpirar e adoptar a estratégia da "avozinha". Lá em cima, apreciámos, além da vista", a passagem de um rali de carros antigos.
Uns kms mais à frente, voltámos a cruzar com o rali, onde a passagem pela ponte de Mandrás tinha de ser efectuada à vez. Agrupámos, para passarmos todos de uma vez só e atrapalharmos o menos possível a prova.
Já a anunciar a hora de almoço, parámos em Cea para abastecimento. Percorremos algumas casas para tentarmos comer e a última tentativa foi numa pequena casa literalmente invadida pelos Papa Trilhos. Fomos servidos de umas belas sandes de presunto com queijo, enquanto lá fora, o invejoso S. Pedro, voltava a fazer das suas.
Desta vez estávamos mais prevenidos. Vestimos os impermeáveis, aconchegámos o vestuário com uns jornais à mistura lá fomos nós cumprir o resto da etapa. Fomos desbravando trilhos pelo meio da serra, passámos por algumas povoações típicas... Alguns trilhos exigiam uma técnica mais apurada, pois tinham bastantes pedras que com a chuva tornavam-se mais traiçoeiros. Estes troços, consumiam-nos mais tempo e não eram produtivos.
2 locais de passagem dignos de registo, foi a Casa César, onde fomos recebidos pelo dono, de braços abertos, onde os peregrinos podiam degustar aperitivos diversos (e bebidas a condizer). O preço era ajustado à vontade de cada um...
Outro local, foi na aldeia de Oseira com um imponente mosteiro digno de uma visita mais pousada. Nós apenas fizemos uma visita rápida com algumas fotos. Seguiu-se uma subida daquelas com uma contribuição generosa para o acumulado final.
Pelo caminho íamos encontrando peregrinos pedestres, alguns portugueses, com quem trocávamos alguns minutos de conversa. Chegámos ao hotel em Silleda depois de pedalarmos 82Km durante 11.41h.
DIA 3 - Silleda/Santiago de Compostela
Estávamos na última etapa e a motivação completamente restabelecida. O cansaço físico tinha sido dispensado e todos estavam com o pensamento da chegada a Santiago. Apenas pouco mais de 40Km nos separavam deste objectivo. O tempo estava nublado e as previsões ditavam alguma chuva. A hora de partida tinha sido anunciada para mais tarde, para descansarmos um pouco mais, pois também não tínhamos pressa em chegar a Santiago. Saímos de Silleda quase às 10.00h.
Seguimos as indicações do Caminho, passando por trilhos bastante agradáveis. Estávamos a usufruir dos melhores trilhos das 3 etapas. Serpenteávamos por caminhos entre árvores e completamente fechados, sem grande exigência técnica. Apanhámos algumas subidas que totalizaram cerca de 950m de acumulado, mas também grandes descidas... ora estávamos a uma cota em que tínhamos uma vista de se perder no horizonte, ora poucos minutos depois estávamos a uma outra cota, numa ponte romana, junto ao rio.
Parámos para tomar café e petiscar alguma coisa em Ponte Ulla. Durante o percurso passámos por bastantes albergues, todos muito bem cuidados, com espaços exteriores agradáveis e com um bom enquadramento arquitectónico. Fizemos várias tentativas de carimbar as nossas credenciais nos albergues, mas todas em vão, pois só lá encontrávamos alguns (poucos) peregrinos.
Do alto da serra, em Angrois, já avistávamos Santiago... era já ali! Os sorrisos duplicaram e todas as dificuldades destas 3 etapas desvaneceram-se. Todo o esforço culminava nesta chegada. Agrupámos na entrada a Santiago, mas ainda nos faltava uma última subida bastante acentuada. Desfilámos por umas poucas ruas à volta da Catedral com alguns olhares curiosos naquela mancha laranja e azul.
Depois de 43km e alguns minutos depois das 15.00h, estávamos a entrar em pela praça da Catedral. Para nos receber, além de toda a mística do local, também lá estava a Papa Trilho Sónia que havia chegado no dia anterior.
Seguiram-se abraços e beijos, festejos e felicitações. Era o final de uma peregrinação que nos proporcionou um conjunto de sentimentos e emoções bastante pessoais, mas também transversais a todo o grupo. É difícil definir o momento e impossível resumi-lo numa só palavra, mas não posso deixar de expressar o que me vai na alma - "Obrigado Papa Trilhos"!!!
DIA final - Viagem Santiago/Fernão Ferro
Hoje iríamos regressar a Fernão Ferro. Amanhecemos com alguns chuviscos e aproveitou-se a manhã, alguns para descansar um pouco mais, outros para ir dar uma volta até ao centro de Santiago. Hoje éramos turistas! Visitámos a Catedral, entrámos em algumas lojas, apreciámos o ambiente e ao final da manhã, arrumámos as bikes no autocarro e lá fomos nós.
Paragem para almoço em Ponte de Lima... e que almoço! Este local tem qualquer coisa de diferente, a comida, o vinho verde, as paisagens... Optámos por almoçar no restaurante "River View". Arroz de serrabulho, bacalhau, eram alguns pratos do menu. Tudo estava digno do nosso apetite. O dono do restaurante, Sr Carlos, figura distinta, misturou-se no nosso convívio gastronómico e brindámos, com vinho verde da adega local, a esta incomparável Família - os Papa Trilhos.
O balanço estatístico desta peregrinação totalizou 230Km com 4602m de acumulado de subidas, e zero buzinadelas. É realmente digno de registo que por todos os locais que passámos, sempre que nos cruzávamos com viaturas, quer fosse na mesma estrada, em cruzamentos ou atravessamentos, é de enaltecer o respeito e consideração que têm para com os peregrinos.
Esta foi mais uma Peregrinação Papa Trilhos.